terça-feira, 4 de outubro de 2011

Chapter I - The Meeting

I

The Meeting



Olhava pela janela traseira do carro admirando as formas que as nuvens faziam no céu. Era uma boa distração e um ótimo passa tempo.

Eu tinha acabado de voltar de Taiwan quando meu pai me deu a notícia de que iria me casar.

Não é uma boa notícia que se dê a uma adolescente de dezessete anos que ainda quer aproveitar muito a sua vida, mas parece que ele não pensou nisso enquanto aceitava a proposta do Sr Minami. Então pode-se dizer que voltei pra me casar. Não por que eu quisesse e sim por que meu pai disse que eu teria de fazê-lo para ter um futuro melhor, e isso só poderia acontecer se eu me casasse com o filho dele, caso contrário iríamos a falência.

Tentei discordar dele. Que me esforçaria e estudaria muito pra ter um bom emprego, mas tudo o que ele me disse foi:

“- Minha querida... Fizemos de tudo por você e acho que está na hora de fazer algo por nós também.”

Este foi o argumento dele. E o que me deixou bastante frustrada é que teria de terminar meus estudos num colégio interno, dividir um quarto e o pior é que a pessoa que eu teria de dividi-lo seria meu futuro marido...

Não algo muito apropriado a se fazer, mas no desespero deles resolveram nos juntar a qualquer custo.

Meu pai dirigia o carro e minha mãe estava ao lado, ambos num silêncio que por mim não seria quebrado tão cedo, mas como esperado meu pai sempre tem algum argumento.

- Sinto ter de fazer isso querida, mas é para o nosso bem. – disse-me olhando pelo espelho retrovisor, mas nem me dei ao trabalho de olhá-lo, apenas resmunguei algo e continuei em “divertida” distração.

Não estava com raiva dele, apenas acho que ele deveria ter me perguntado e me apresentado o garoto antes de tomar qualquer decisão. Afinal, um casamento é uma coisa séria. Algo que eu teria de levar pelo resto da vida.

Respirei fundo e abaixei a cabeça. Não queria ter de explicar-lhe isto, até mesmo porque ele já deveria saber disto tudo, mas...

- Isso tudo é muito frustrante. – falei finalmente jogando minha cabeça pra trás sem querer fitá-lo. Aquilo era muito pra mim – Você podia ao menos ter me perguntado não? Como acha que me sinto? Ponha-se no meu lugar. Não irei contra a sua vontade de me casar com esse tal de André, mas saiba que estou muito magoada com o senhor, meu pai.

Ele ficou alguns segundo em silêncio antes de resmungas um “sinto muito” pra depois não falar mais nada.

Minha mãe passou a viagem inteira em silêncio e eu também não fiz questão de falar com ela. Eu sabia que os dois estavam juntos naquilo e ela não se manifestou por se sentir tão culpada quanto ele.

A viagem pareceu durar uma eternidade até que chegássemos no tal colégio.

Quando finalmente chegamos me deparei com algo bem sutil.

O prédio era bem antigo, mas também muito bem conservado. A velha tintura não tinha uma pichação sequer, o lugar esbanjava elegância e aparentava ser bem rigoroso.

Não me preocupei com as malas no porta-malas e caminhei até os primeiros degraus da entrada.

Estava um pouco nervosa já que não conheceria ninguém naquele lugar e provavelmente seria um pouco difícil de me acostumar com o novo ambiente. Não que eu fosse demorar a me acostumar, nunca tive esse problema, mas é que... Sempre fui insegura.

Senti que minha mãe estava do meu lado e ela apoiou suas mãos em meus ombros.

- Sei que irá se acostumar rapidamente, por isso não se preocupe e relaxe. Não fique brava comigo e com seu pai, não queremos mandar em sua vida, apenas queremos o melhor pra você.

Disse isso e depois me abraçou de lado.

Mesmo estando magoada com eles não consigo ficar brava, e além do mais, como ficar com aquele abraço tão acolhedor?

Apoiei minha cabeça em seu peito e fui me acalmando aos poucos enquanto ouvia as batidas de seu coração. Isso era tão bom. Lembrava-me de quando era criança que ia deitar-me junto a ela e sentia que nada de ruim poderia me acontecer.

Naquele momento sentia meus olhos arderem e um bolo muito grosso se formar em minha garganta ao pensar que não poderia mais abraçá-la por um bom tempo, mas não queria que ela se sentisse mais culpada do que já estava e por isso respirei fundo e me contive deixando pra fazer isso depois que eles já tivessem ido.

Olhei finalmente para seu rosto e me lembrei o porquê de amá-la tanto.

Seu rosto tão delicado quanto de um anjo, sua pele macia e calorosa, tão branca quanto a minha, seus fios castanhos ondulados caiam por seus ombros, os olhos... Ah, os olhos... Tão verdes quanto os meus... Dizem que os olhos são as janelas da alma e os dela transbordavam de amor e carinho.

Sorri pra ela o mais disfarçadamente que pude – Não se preocupe mãe... – forcei-me a dizer ignorando a dor em meu peito – Ficarei bem.

Vi suas lágrimas começarem a correr por seu belo rosto e contornar seus lábios finos que foram curvados por ela num sorriso terno.

- Sei que será forte. – disse-me e por fim beijou minha testa e me abraçou ainda mais apertado.

Sorri com seu ato. Sempre fui “filhinha de mamãe” e acredito que por ser filha única sempre fui mimada, mas acredito que eles souberam me criar bem. E também aprendi muito com seus erros.

- Ok mãe. – disse sorrindo pra ela – Vamos entrar? Quero aproveitar meus últimos minutos com vocês aqui.

Ela sorriu e me puxou escada acima enquanto sorria tranquilizadora, seus olhos vermelhos pelas lágrimas de agora há pouco.

A sala do diretor era uma das primeiras e por isso não pude ver muito do colégio ainda. Assim que chegamos a frente, meu pai eu vinha logo atrás de nós bateu na porta.

Ouvimos um “Pode entrar” abafado e meu pai abriu a porta cobrindo qualquer coisa que pudéssemos ver com seu enorme corpo.

- Com licença! – ouvi-o dizer com a sua voz forte – Sou o Sr Matsumoto...

Ele entrou na sala e pude ver a face do diretor atrás da mesa. Aparentava ter mais de quarenta anos. Tinha os primeiros fios de cabelos completamente brancos e depois seguia seus grossos fios negros pelo resto da cabeça. Olhos verdes, nariz grande e pontudo, e queixo quadrado. Tinha ombros largos, músculos bem trabalhados, e uma bela aliança dourada brilhava em sua grande mão esquerda. Era um belo homem.

- Oh, claro. Sentem-se, por favor. – disse apontando pras cadeiras a sua frente – Sou o Sr Ritsuka, e é um prazer conhecê-los. Presumo que esta seja sua filha Nádia... – sorriu gentilmente pra mim – E esta deve ser a Sra Matsumoto... É um prazer conhecê-las.

- O prazer é meu. – disse por educação e minha mãe apenas sorriu educadamente.

- Espero que goste de estudar aqui. Todos os alunos falam muito bem da escola e não é presunção minha.

- Imagino que não.

Por mais que o clima estivesse acolhedor não gostei muito desse diretor. Suas reações pareceram-me muito forçadas e este foi um grande motivo pra não gostar muito dele.

Sentei-me em uma das cadeiras ao lado de minha mãe e meu pai em frente ao diretor.

- Bom... Sobre colocá-la no quarto do Sr Minami, não acho que seria muito conveniente...

- Você já aceitou minha proposta e não aceito que volte atrás.

- Mas é que... Não poderia ser no quarto de algum outro aluno?

- O Sr prometeu-me que não faria nenhuma pergunta e que agiria conforme combinamos.

- É claro... Como queira.

Depois de alguns minutos em sua sala ele disse que chamaria alguém pra pegar minhas malas no carro e levá-las até meu novo quarto.

A hora da despedida foi pior do que eu imaginava.

Minha mãe chorava muito e nem eu consegui evitar que algumas lágrimas caíssem. Meu pai manteve-se firme, mas sabia que ele também estava sofrendo com mais essa partida. Afinal eles ficaram longe de mim durante dois anos e logo depois que eu chego tenho de me despedir de novo.

- Sentirei sua falta. – disse-me enquanto me abraçava.

- Eu também pai.

Acariciou meu rosto colocando uma mecha de meu cabelo que caída atrás da orelha e se afastou em direção ao carro.

- Nas férias viremos te buscar. – disse minha mãe já dentro do carro enquanto meu pai ligava-o. Eu apenas sorri e acenei pra ela, e depois fiquei de longe os vendo partir.

Senti o braço do Sr Ritsuka sobre meu ombro direito e olhei-o intrigada.

- Vamos entrar? – perguntou-me com um sorriso forçado. Apenas assenti e segui-o – Pedi que deixassem seu material no seu quarto junto com as suas coisas e amanhã mesmo poderá começar suas aulas.

Eu ouvia tudo, mas não ouvia nada. Parecia que ele apenas fazia barulhos enquanto mexia a boca e eu apenas concordava. O que eu mais queria no momento era chegar no meu quarto logo e me jogar na cama sem ser incomodada por mais ninguém.

Queria acordar em Taiwan e descobrir que isso tudo não passava de um sonho.

Que meu professor e tutor estava no quarto ao lado e que ele me acalmaria quando tudo terminasse.

Andamos mais alguns corredores até que ouvi-o dizer o que eu mais queria:

- Este é o seu quarto. – disse abrindo a porta e entregou uma chave em minhas mãos – E essa é a chave da porta. Como pode ver todas as suas coisas estão aqui, então descanse que amanhã será um longo dia.

Só ouvi o barulho da porta se fechando a minhas costas e num instante estava diante de minha mais nova cama, e foi ali que me joguei e apaguei.

Acordei um tempo depois ouvindo barulho de água correndo.

“- Gua de kuen...” resmunguei. Por que tinha de ser acordada logo cedo? Mas o barulho continuou por algum tempo até que percebi ser o chuveiro. Revirei-me na cama e neguei-me a abri os olhos. Depois de alguns minutos percebi que o barulho tinha parado, mas aí um barulho ainda maior me fez despertar ainda mais. “- Gua ai kuen...” resmunguei mais alto, mas não .

- Que língua é essa eu está falando? – ouvi uma voz masculina e grossa, mas completamente diferente da voz de meu professor.

Abri os olhos assustada e sentei-me na cama deparando-me com um quarto escuro, e foi aí que me lembrei onde estava e que aquilo não era um pesadelo no qual poderia acordar a qualquer momento. Olhei ao redor e vi que o quarto estava iluminado apenas pela luz que vinha de um banheiro e que parado na porta um garoto.

E que garoto...

Usava apenas uma toalha presa na cintura, seu corpo bem trabalhado molhado do banho que acabara de tomar, os longos fios loiros grudados ao corpo molhado e os olhos puxados estava fechados enquanto esfregava outra toalha na cabeça, mas assim que os abriu pude ver os belos orbes azuis me fitarem curiosos.

Olhei para o lado, desconcertada. Sentia as batidas fortes que meu coração dava. Como podia uma pessoa ser tão bonita?

- Você que é o tal André Minami? – perguntei ainda sem fitá-lo.

- Sou. – disso sorrindo sarcástico – E você é a tal Nádia Matsumoto?

Olhei-o curiosa pelo seu tom de voz.

Ele tinha uma voz grossa muito bonita, mas o sarcasmo nela me intrigou.

- Alguma graça? – perguntei na defensiva. Afinal, por ser tão bonito, o que o impediria de ser convencido e arrogante?

- Nenhuma. – disse-me por fim – Só achei interessante o jeito como falou.

Franzi minhas sobrancelhas pensando em meu tom. Talvez eu tivesse sido um pouco arrogante...

- Desculpe-me pelo tom. – disse arrependida e um pouco acanhada. Forcei-me a olhar em outra direção, caso contrário faria secar cada gota de seu corpo com os olhos...

Percebi sua movimentação pelo quarto e o barulho quando se jogou na cama frente a minha.

- Então... Que língua era aquela que estava falando? – perguntou-me curioso e não pude deixar de fitá-lo.

Acho que foi um grande erro tê-lo feito. Ele estava deitado em sua cama com as mãos atrás de sua cabeça segurando-a enquanto me fitava. Parecia realmente interessado naquilo.

Balancei a cabeça tentando me concentrar na pergunta antes de dizer qualquer coisa.

- Ah... Não sei... Chinês... Taiwanês... As duas línguas são muito usadas em Taiwan, então qualquer uma que eu dissesse eles entenderiam. – expliquei calmamente. Como eu queria estar lá agora.

- Então você estava em Taiwan?

- Sim. Meu professor é poliglota então estava me ensinando algumas línguas.

“Gosto muito dele. É um ótimo professor. Tem muita paciência comigo. – Dizia pensando nele. Existem poucos professores que sabem realmente explicar alguma matéria e ele era um desses – Dizia que eu tenho facilidade de aprender, mas ele também sabia explicar muito bem.”

- Hum... – ele resmungou, então voltei meu foco em sua direção – Ele parece ser um bom professor pelo jeito que fala. Será se ele não se importaria se me ensinar alguma língua? No momento só sei duas, fora a minha língua nativa...

- Pode deixar que falo com ele. – disse-lhe sorrindo – Você não parece ser arrogante...

Deixei escapar sem querer, mas estava admirada com o seu interesse e disposição pra conversar. E logo ouvi sua alta gargalhada. Parecia não conseguir se conter.

- Parecia-lhe arrogante? – perguntou ainda sem conter as risadas.

- Um pouco, mas foi só abrir a boca que percebi que não...

- Oh... Não se deixe enganar. Sei ser muito arrogante e ignorante se possível. – disse num tom mais sério, mas ainda podia ver em seu olhar o quanto se divertia com aquilo.

- Você não me engana... – disse-lhe – pode até ser que você seja ignorante as vezes, mas o seu tom sério de agora não me convenceu. Vai precisar de muito mais pra me enganar.

Eu estava gostando de conversar com ele. Era divertido e pareceu bem interessado em saber todos os lugares que eu tinha ido. Gostou da minha descrição de Taiwan e pareceu bem interessado em aprender a língua.

Talvez não seria tão ruim se eu me casasse com ele... Mas não posso me deixar surpreender pelas primeiras impressões.

- Que horas são agora? – perguntei a ele depois de um tempo. Não sabia nem a que horas tinha chagado ali e muito menos desde que horas havíamos começado nossa conversa.

Ele olhou em seu relógio de pulso antes de me responder.

- São quase onzes da noite.

- Nossa... E desde que horas estamos aqui?

- Sei não. Cheguei depois das aulas e você já estava dormindo. Que horas chegou?

- Não faço a mínima idéia. Só sei eu estava morrendo de cansaço então simplesmente me joguei na cama e apaguei.

“Não me pergunte nem o que o diretor me disse no caminho até aqui...”

- Imagino que não tenha ouvido nada... – começou pensativo – Bom... Acredito que tenha sido as mesmas coisas eu me disse quando fiquei sabendo que teria de dividirmos o mesmo quarto...

“A mais importante que é ninguém pode saber. Não poderá trazer ninguém aqui. Nenhuma dos meus amigos entrou neste quarto desde que me mudei pra cá. Eles sequer sabem qual é.”

“Se preciso terá de mentir pra suas amigas. Caso perguntem com quem divide o quarto, apenas diga que está sozinha, e se perguntarem qual é, dê qualquer desculpa e saia de perto. Se algum aluno descobrir que estamos dividindo o mesmo quarto isso pode causar um grande reboliço no colégio...”

Ele explicava pacientemente e isso só me encantava ainda mais. E o fato de ele estar sendo tão atencioso e cuidadoso com as palavras me fazia pensar que tudo aquilo não fosse uma má idéia.

Depois dele me explicar tudo o que eu deveria saber sobre a escola disse-me que seria bom se fossemos dormir, já que teríamos de levantar cedo no dia seguinte. Mas antes de me entregar ao sono novamente procurei em algumas de minhas malas por minha toalha e minha camisola, e fui tomar um banho também.

Fiquei lá por cerca de dez minutos e logo saí já trocada.

Olhei em direção a sua cama e vi que ele também tinha se trocado (colocou apenas uma bermuda) e estava deitado de lado com o lençol até seu quadril deixando seu peito nu a mostra.

“Esse garoto está realmente querendo me tentar...”

Joguei-me em minha cama e depois de alguns minutos consegui pegar no sono.

Na manhã seguinte acordei com o barulho chato de um despertador ecoando pelo quarto.

Fui abrindo os olhos lentamente tentando localizar o paradeiro do Benedito, mas logo ouvi um tapa, e o barulho cessar... Olhei ao redor e vi a mão de André sobre algo que me pareceu ser o despertador e parecendo um zumbi sentou-se na cama esfregando os olhos enquanto seus longos fios caiam frente ao rosto.

Parecia uma criança.

Permaneci deitada durante um tempo e quando o vi entrar no banheiro resolvi levantar.

Sentei-me em minha cama e depois de bocejar e esfregar bem os olhos, levantei e fui cambaleando até a cômoda no canto do quarto.

Peguei meu uniforme que estava ali e voltei a me sentar na cama esperando que ele desocupasse o banheiro.

Ele ficou lá cerca de dez minutos e quando saiu estava impecável com o uniforme (calça social preta, uma camiseta de manga branca com uma pequena gravata vermelha).

Assim que saiu do banheiro olhou em minha direção e pareceu se lembrar o que eu estava fazendo ali.

Não disse uma palavra e sentou em sua cama mexendo na mochila.

Aproveitei a deixa e me tranquei no banheiro.

Olhei-me no espelho e respirei fundo. Por que isso tudo tinha de acontecer comigo?

Resolvi parar de pensar e me arrumar logo.

A roupa não parecia feia. Era uma camiseta de mangas compridas brancas, a pequena gravata vermelha, e uma saia rodada azul marinho. Tinha também uma meia branca com uma listra azul em cima, e uma sapatilha preta.

Depois de pronta me olhei no espelho.

Meus olhos verdes estavam cansados e qualquer um poderia perceber isso, meus cabelos pretos e grossos caiam desalinhados pelo meu rosto. Em meu rosto podia perceber os poucos traços que tinha de minha mãe. Fora o meu tom de pele, meu nariz era pequeno iguais ao seu, e os meus olhos, mas estes eram puxados iguais aos do meu pai, assim como os meus lábios cheios.

Passei os dedos entre alguns fios e meu cabelo tentando soltá-los e assim que saí do quarto peguei minha escova de cabelo e dei um jeito neles.

- Sua lista de com os horários das aulas está em cima da cômoda. – disse André e foi aí que me dei conta de que ele ainda estava no quarto – Estou de saída. Boa sorte!

Apenas o olhei sair sem dizer nada.

Bufei frustrada assim que ele saiu e fui em direção a cômoda pegar a lista e ver os livros que deveria levar.

Teria aula de matemática...

Que bom. Adoro matemática. Depois português, inglês, espanhol, história e biologia.

Não era tão ruim.

Peguei os livros correspondentes as matérias e joguei na mochila saindo logo do quarto também.

Andei pelos corredores em busca dos alunos e ver se conseguia me informar com algum deles onde seria a minha sala, mas... EU ESTAVA PERDIDA.

Bem que o André poderia ter me esperado pra me mostrar o caminho... Pelo menos eu poderia dizer que conheço alguém...

Andava desesperada em busca de alguma pessoa até que FINALMENTE encontrei duas garotas andando apressadas. Uma era loira e a outra morena. Não eram muito altas, mas bem bonitas.

- Esperem... – chamei-as e elas pareceram assustadas ao me verem, mas logo se recomporam e sorriram simpáticas pra mim – Poderiam me ajudar?

- Claro. – disse a loira.

- Em que podemos ser úteis? – perguntou agora a morena.

Sorri aliviada pras duas antes de começar – Será se poderiam me informar onde fica a sala seis?

- Claro querida. Estávamos indo pra lá também. Você é nova aqui não? – perguntou a loira.

- Sim... – disse um pouco envergonhada – Estou começando hoje.

Começamos a andar juntas e logo me vi junta aos outros alunos, o que foi um grande alívio.

- E então? – chamou minha atenção a morena que descobri ser Caila – Está gostando da escola?

Olhei-a um pouco incerta.

- Não sei dizer... Parece ser um ótimo lugar, mas o ruim é não conhecer ninguém. – suspirei pesarosa – mas espero me adaptar bem aqui. – sorri forçado.

As duas se entreolharam e depois a loira chama Cíntia virou-se pra mim sorrindo e disse:

- Olha... Adoraríamos se andasse conosco. Gostamos de você e podemos lhe apresentar a várias pessoas e os garotos mais populares da escola...

Podia ver o brilho em seus olhos e a empolgação com que falava era contagiante, só não sei se era uma boa idéia...

- Ok. – disse sorrindo pras duas – Então... Onde fica nossa sala?

- Por ali. – disse-me a morena apontando em direção a um dos corredores e em seguida me puxando pra lá – Vem ou iremos nos atrasar.

Fui puxada pelas duas até a sala e lá elas me colocaram numa carteira ao lado da delas e quando os alunos iam entrando elas me falavam quem eram.

Alguns eu me lembro, mas outros sequer lembro-me dos rostos.

A maioria dos alunos que entravam cumprimentavam as duas, o que significa que eram umas das populares.

- Por que todos conhecem vocês? – perguntei pra Caila a frente de Cíntia, mas foi a loira quem me respondeu.

- Simples. É por que somos as líderes de torcido. É normal que todos nos conheçam.

Caila apenas sorriu e continuou a me dizer os nomes dos alunos.

- Aquele é Michael Finegan, o garoto nerd da sala. Qualquer coisa que precisar das matérias é falar com ele. – disse assim que um garoto moreno de grandes óculos redondos entrou na sala com sua enorme mochila pendurada nas costas. Eu poderia dizer que aquele garoto tinha futuro. Era bem bonito, mas mal cuidado. Não sabia se arrumar direito. Talvez eu pudesse fazer amizade com ele... Enquanto ela falava eu apenas assentia - ... Aquele é um dos garotos mais populares da escola... Guilherme Stanford... – nesse momento Cíntia parou qualquer coisa que estivesse fazendo e olhou pra porta.

Um moreno de cabelos castanhos poucos ondulados, olhos verdes intensos, pele morena, e mesmo com aquele uniforme dava pra ver as formas de seus músculos bem trabalhados.

Eu apenas ria enquanto via as duas babarem pelo garoto que sequer pareceu nos notar.

- E logo atrás seu melhor amigo... O garoto mais popular daqui... André Minami. – Nesta hora eu não sei nem o que foi que eu senti. Olhei de olhos arregalados em direção a porta e o vi entrando sorrindo com seu amigo sobre algo qualquer.

E mesmo tendo conversado tão abertamente com ele ontem, agora ele me parecia tão inalcançável. Sequer pensei que ele era meu futuro marido...

Não sei se aquilo era sorte, ou um motivo de insegurança. Afinal, o que ele iria querer comigo com tantas garotas bonitas por aqui? Como podem ver não tenho auto-confiança e tenho meus motivos pra isso.

Evitei olhá-lo durante toda a aula e na hora do intervalo dei graças quando ele saiu com os amigos sem falar comigo.

Talvez se não conversássemos muito em público fosse melhor...

Saí com as meninas da sala e fomos até a cantina. Elas compraram uma barra de cereais e um refrigerante light.

- Vão comer só isso? – perguntei incrédula.

- Precisamos manter a formas, oras... – replicou Cíntia – Não posso virar uma líder de torcida gorda. Acabaria com a minha reputação.

Eu olhei pras duas indignada. Balancei a cabeça tentando esquecer o assunto e pedi meu lanche. Um sanduiche de queijo e uma Fanta uva.

Fomos nos sentar próximas a uma árvore de onde dava pra ver a quadra em que os garotos jogavam futebol.

- Não acredito que vai comer mesmo isso... – indagou Cíntia – Isso é uma bomba calórica...

- Mas é bom e eu estou com fome. Só uma barra de cereais não me saciaria. – expliquei começando a comer.

As duas comeram suas barras e não disseram mais nada sobre meu lanche.

Tínhamos ainda dez minutos de intervalo quando Caila aproximou-se mais de mim e perguntou:

- Então Nádia... Por qual dos garotos se interessou mais?

- O quê? – perguntei assustada.

- Você me entendeu. Não se faça de boba. Afinal estamos entre amigas não?

Sim... Pode-se dizer que já somos amigas, mas não intimas... Mas talvez se eu tentar me soltar um pouco...

- Hum... Deixe-me ver – sorri pra elas enquanto pensava – O Guilherme é bem bonito... Mas...

- Mas...? – disseram as duas juntas parecendo ansiosas demais.

- Bom... O André também é muito bonito... – disse por fim.

- Não... O André não é bonito. – disse Cíntia – Ele é lindo demais. Quem me dera ter uma chance com ele, mas ele mal olha pra mesma garota duas vezes. – passou a falar num tom desapontado como se sentisse muito por aquilo – Ele dá em cima de todas as garotas, mas sequer chega a ficar com alguma delas. Não sei dizer o que ele está pensando. Ninguém consegue descrevê-lo.

- Como eu disse, ambos são lindos... – disse Caila se gabando – Isso é um fato. E o que os tornam os garotos mais populares daqui é que também são os melhores jogadores de futebol.

Eu ergui as sobrancelhas pra ela e esta sorriu pra mim.

- Não tinha te dito? Eles são do time de futebol e ganham ouro todo ano pro colégio.

- Ah...

Voltei a atenção a quadra e fiquei a olhar os garotos.

Eles pareciam animados, mas bem sérios na partida.

Estava a admirar André correndo com seus longos cabelos presos num rabo de cavalo que esvoaçavam com o vento. Fiquei a admirar sua figura.

Ouvimos o barulho do sinal tocando e esta foi a nossa deixa pra voltarmos pra sala.

A manhã passou bem rápido se for ver. Nem percebi a hora passar e quando notei estava sozinha no quarto novamente, deitada em minha cama. O André tinha ido treinar e eu me despedi das meninas e duas horas depois achei finalmente meu quarto.

Eram duas da tarde e eu estava morrendo de preguiça no quarto. Por mim não sairia dali tão cedo.

Na verdade nunca fui de sair. A época em que mais fiz isso foi quando estava em Taiwan, que meu professor me levava pra conhecer os lugares.

Lá fica muito bonito durante a noite. Todas aquelas luzes acesas deixam a cidade... Incrível.

Se algum dia alguém quisesse conhecê-la eu recomendaria com o maior entusiasmo. Além de calma eu sou empolgada demais...

Suspirei pesado lembrando-me de meus amigos... Sinto tanta falta do Lucas... Do Amauri... Nossa... Há quanto tempo nãos os vejo. E justo agora que voltei pro Brasil não pude reencontrá-los...

Será se ainda tenho o número do celular do Lucas...?

Pensava angustiada. Por fim lembrei onde tinha posto o meu celular e comecei a procurar na agenda telefônica.

Achei um Lucas na lista, mas será se era ele mesmo, ou se fosse que pelo menos fosse o mesmo número...

Disquei o número e apertei “Send”.

Tocou uma. Tocou duas... Até que no quinto toque atenderam.

- Alô.

- Oi... É do celular do Lucas? – perguntei incerta. Odeio quando ligo pra pessoa errada...

- Sou eu, quem gostaria?

- Oi Lu, é a Nádia. Tudo bem? Que saudades... – falei empolgada demais quase chorando. Como era bom falar com alguém conhecido e de quem gosta tanto.

- Ná? Nossa menina. Tu tá viva. Achei que tivesse morrido e se esqueceram de me chamar pro enterro...

- Ai, que maldade... Só porque fiquei, o quê? Três anos sem dar notícias?

- Só não? – disse sarcástico – Tem razão, acho que foi um exagero meu... Depois que passar um século sem notícias, aí sim eu digo que foi muito...

- Desculpaaa... – implorei – Mas é que não dava, imagina só quanto eu não gastaria te ligando do outro lado do mundo...

- Pois é nee... E não existe mais internet, carta... Nada disso nee?

- Desculpa. Foi um grande erro meu. – estava morrendo de remorso e de felicidade por estar falando com ele – Mas e aí? Como tem passado? Quais são as novidades? O que aconteceu enquanto estive fora?

- Te perdôo desta vez ok? Mas se repetir o erro te esfolo viva. – com essa com certeza eu fiquei com medo, mas não me preocuparei com isso agora já que pretendo não repetir mais o erro – Então... Meninaaa. Nem te conto...

- Conta sim!

- Conto. Tô namorando...

- MENTIRAA. Quem é o coitado?

Ficamos conversando durante um bom tempo e confesso que senti falta das risadas que só dava com ele.

Por mais que eu não quisesse comentar sobre o assunto acabei falando pra ele sobre o casamento. No começo ele ficou penalizado por mim, mas quando descrevi o André ele só faltou trocar e lugar comigo.

Talvez, no fim das contas, esse casamento não fosse ser tão ruim. Até porque tínhamos um tempo e nesse tempo muita coisa pode acontecer.

Quando deus cinco e pouco da tarde o André entrou no quarto se arrastando e quando chegou do lado da cama se jogou nela. Não disse nada e apagou.

Fiquei olhando a cena sentada na minha cama e quando vi que ele não acordaria tão cedo levantei e fui cutucá-lo pra tirar ao menos o sapato.

- Ei... – chamei – Acorda. Não vai ao menos se ajeitar pra dormir?

- Não enche o saco. – resmungou sem se mexer.

Respirei bem fundo, mas bem fundo mesmo, e olhei pra cima pra me acalmar. Além de tentar ajudar ainda levo xingo...

- Sou uma pessoa muito boa. – falei pra mim mesma e tirei os sapatos dele e o ajeitei na cama. Ô garoto pesado. Em seguida peguei sua mochila do chão e a apóie na cabeceira da cama.

Olhei-o novamente e vi seus fios caindo desalinhados na testa toda sua testa. Peguei alguns fios e os joguei pra trás, mas ao fazer isso vejo dois orbes azuis me fitando.

Continua...