terça-feira, 4 de outubro de 2011

Prólogo

“Há muito tempo, em uma época...”


- Não... Muito clichê... – resmunguei sozinho frente a tela do computador apagando o que havia escrito e parando pra pensar mais um pouco.

Fiquei batendo nas teclas enquanto pensava em alguma forma de começar a história.

Apesar de me lembrar de cada detalhe quero começá-la da maneira certa.

Suspirei e encostei-me na cadeira, cruzei os braços e fechei os olhos. Uma atitude bem humana, admito, mas que me tranqüilizava e me ajudava a pensar.

O fato de estar escrevendo este livro e revelar a todos minha vida é um tanto que preocupante, até porque acredito que muitos não irão gostar de ver seus nomes citados aqui, mas gosto de correr certos riscos...

Abri os olhos por fim e olhei ao redor, vendo cada móvel daquele quarto. Lembrava-me de quando comprei cada um deles. O pequeno guarda-roupa comprado no século XIX estava intáquito ao lado da cama de casal que Miguel me ajudou a escolher algumas décadas atrás. Esta estava em perfeito estado já que quase nunca a usava, apenas quando queria fazer certas coisas com ele...

Bem na frente do quarto estava a mesinha com o computador junto com a cadeira onde eu estava sentado. Bem no meio, um grande tapete redondo de crochê feito pela Natalie.

Ao lado direito da mesinha ficava a porta que dava no corredor da casa e do outro lado, outra que dava na sacada.

Ergui-me lentamente e num instante estava na sacada do segundo andar olhando para a rua pouco movimentada do bairro.

Meus longos cabelos voavam levemente com a brisa da madrugada dançando frente ao meu rosto parecendo querer se exibir, meus olhos negros que podiam enfeitiçar vagavam por cada rosto que passava pela rua, minha pele branca impressionava qualquer mortal que olhasse, mas era macia para encantar quem quer que a tocasse, meus lábios cheios e convidativos, meu rosto fino e andrógeno, expressões arrogantes, mas angelicais... Quem não ia querer ser tão encantador quanto eu?

Acham que estou me gabando caros leitores?

Mas se sou convencido, acredite, foi porque me fizeram acreditar em tudo no que lhes disse.

Eu poderia fazer qualquer coisa que um humano duvidasse. Poderia desaparecer diante de seus olhos e surgir novamente 10m a frente em apenas um segundo.

Não acreditas em minhas palavras?

Pois crêem que com o decorrer da história, far-lhes-ei acreditar em muito mais.